sábado, 31 de março de 2012

Como escrever as horas e os minutos (unidades de medida)


Para mim, a leitura de jornais tem sido muito proveitosa, pois além de me manter atualizado sobre acontecimentos recentes, as manchetes sempre me proporcionam um bom material aqui para o blog , como a dica de hoje, por exemplo.

Mais uma vez, leio a manchete:

Criança morre após passar 5h em carro

Primeiramente, acho estranho uma criança morrer após passar esse período de tempo em um carro. A experiência de vida me diz que ninguém, por si só, pelo fato de viajar ou estar num carro por um longo período, corra risco de morte. Aliás, inúmeras gincanas já foram realizadas nesse sentido, e os participantes saem cansados, porém, nunca soube de morte nesses casos. Ora bolas, o que teria acontecido com essa criança, então?

Leio e encontro mais uma triste notícia sobre um fato que já me começa a parecer corriqueiro: mãe deixa filha de um ano trancada dentro de um veículo por cinco horas, com os vidros fechados, vindo a criança de um ano a falecer.


Bom, então não é simplesmente o fato de passar determinado período de tempo num carro que a levou à morte, mas sim ficar abandonada, trancada, sem atendimento dos pais ou responsáveis. Aí, podemos afirmar, a notícia já veio falha, isto é, capenga de uma das pernas.

Porém, a falha maior se encontra na maneira como as horas foram grafadas. Portanto, vou passar algumas dicas sobre as unidades de medida e, especificamente, sobre as horas:


  • as horas podem ser grafadas de mais de uma maneira: 19h; 22h15min; 3h12min14seg; às cinco horas da tarde; às nove e meia da manhã etc;
  • sempre com letra minúscula, e sem "s" para o plural: 19H (errado); 22hs15mins (errado); 22HS (duplamente errado);
  • a unidade de medida vem colada ao algarismo arábico, não deve haver espaço: 3h e não 3 h (errado); 12h30min16seg (correto, sem espaço entre as unidades);
  • não se admite o uso da forma inglesa, isto é, dos dois pontos: 15:20, 15:20h; 15:20:56 etc. (todas erradas);
  • a abreviação de minutos é "min" e não "m", que é a abreviação de metros: 15m (quinze metros); 15min (quinze minutos);
  • a indicação da abreviação de minutos (min) é opcional: 16h40 (correto); 17h15 (correto).


Agora, para a continuidade de nossa explicação, retomemos o exemplo dado:

Criança morre após passar 5h em carro

Em nosso exemplo, encontramos uma expressão de TEMPO DECORRIDO e não uma indicação do horário existente no relógio. Portanto, temos de um utilizar um vocábulo e não um algarismo, e jamais utilizar abreviatura. Assim: "cinco horas".


De acordo com o explicado, vamos corrigir a manchete:

Criança morre após cinco horas presa em carro


ou


Criança morre após 5 horas presa em carro

A segunda forma não é abonada literalmente por todos os gramáticos, que dizem os algarismos arábicos não serem encontrados no dicionário e que devemos fazer uso apenas de "palavras" no uso da  língua escrita. Porém, vários manuais de escrita autorizam esta segunda forma.

Em suma, devemos escrever: "eu volto em quinze minutos" e não "eu volto em 15min"; "o concursando estuda de oito a nove horas por dia" e não "o concursando estuda de 8 a 9h por dia" etc.

Lembre-se: sempre minúscula, sem o "s" para indicar plural, e sem espaço.

Era o que eu tinha para hoje. Espero que aproveitem.

Abraço a todos.

terça-feira, 27 de março de 2012

A ordem direta da oração (ou não)


Normalmente, quando queremos alcançar clareza, utilizamos a ordem direta na oração. Isto significa fazermos uso de sujeito + verbo + complemento. Porém, muitas vezes a oração não comporta, ou não recomenda, a ordem direta como o melhor posicionamento. Existe o uso estilístico de determinadas inversões, porém, o que pretendo mostrar hoje, é o uso necessário da inversão para dar clareza à frase.


Para tanto, mais uma vez, fui motivado por uma notícia de jornal:

PM MATA HOMEM COM ARMA DE CHOQUE

Vejamos: PM (sujeito) mata (verbo) homem (objeto direto) com arma de choque (adjunto adverbial).

Neste caso, pela proximidade do adjunto adverbial com a palavra homem, o leitor é inicialmente levado a crer que o homem "estava com a arma" e, consequentemente, "foi morto pela PM". Sentido no qual, em uma análise mais atenta, parece haver dúvida, pois seria pouco provável (pelo menos neste momento em que escrevo) que um cidadão comum, e não a PM, estivesse portando uma pistola Taser (arma de eletrochoque, considerada não letal). Portanto, como duas interpretações são possíveis, instala-se a dúvida.

A primeira e mais provável interpretação: pensarmos num adjunto adverbial de acréscimo ou adição, o homem mais a arma que ele portava. Grosso modo, portar a arma restringe e especifica aquele que foi morto. Assim, mentalmente,  colocamos em foco as palavras homem e arma de choque, unidas pela preposição com.

A segunda, e mais improvável, nosso conhecimento de mundo vai buscar o fato do policial portar a pistola Taser. Logo, interpretaríamos com arma de choque como adjunto adverbial de meio, ou seja, o policial matou por meio (fazendo uso) de uma arma de choque.


A leitura do corpo da notícia confirma a segunda opção. Porém, pergunto, como faríamos para obter uma manchete que não gerasse a suscitada dúvida?

Várias opções se apresentam, porém, necessário se faz ROMPERMOS A ORDEM DIRETA DA ORAÇÃO trazendo o adjunto adverbial para posição de destaque, para o início da frase. Deste modo:

COM ARMA DE CHOQUE, PM MATA HOMEM

Importante percebermos como a atenção do leitor vai para a arma de choque e como, de forma inequívoca, o PM mata o homem. Portanto, corretíssimo.

Porém, ainda existe, na minha opinião, uma melhor escolha, que seria:

HOMEM É MORTO PELA PM COM ARMA DE CHOQUE

Perceba-se como, agora, existe a aproximação entre o PM e a arma de choque, portanto, o que induz o leitor a erro na frase original, aqui, funciona como reforço (o uso da pistola Taser foi feito, de forma inequívoca, pelo policial militar).

Para finalizar, caso quiséssemos dar destaque ao fato da pistola Taser ter matado uma pessoa, o que não seria o esperado, pois em vez de proteger a vida do cidadão a arma, considerada como um avanço constitucional, estaria tirando vidas humanas:

ARMA DE CHOQUE USADA PELA PM MATA CIDADÃO

Fundamental perceber que o enfoque, agora, é dado à arma, isto é, a arma é a culpada e não o PM que dela fez uso. Igualmente, o fato de ser questionável o aspecto não letal deste armamento. Aliás, para fazer jus à notícia, o indivíduo que foi atingido e morto tinha feito uso de cocaína e estava destruindo os móveis da casa, o que, se não se mostra um gesto adequado, também não justifica uma morte.

Para nós, o que neste momento importa é saber que existem formas várias para expressarmos determinada ideia, e que, apesar da ordem direta ser aparentemente a mais clara, nem sempre esta assim se mostra.

Por isso é que dizemos que escrever é ofício de carpintaria, necessita estudo, precisão e, certamente, um tanto de arte.


Abraço aos leitores do blog.

sábado, 24 de março de 2012

A importância do erro

Ultimamente tenho pensado muito na questão da importância do erro para o aprendizado humano. Evidentemente que todos aqueles que, por exemplo, façam um bloco de exercícios escolares querem vê-los  acertados e, ao resolvê-los, assim acreditam estar fazendo. Porém, ao se depararem com as respostas erradas, no geral, soltam algum desaforo e, a seguir, retomam a atenção às questões obtidas com êxito.

Ocorre que ao deixarmos passar um erro sem maior avaliação, isto é, sem análise detalhada, perde-se uma excelente oportunidade para o aprendizado. Digo isso porque todo aquele que, ao se deparar com o erro, buscar resposta em sua fonte, aproveita da oportunidade para aprendizado da matéria, amplia sua fixação.


Costumo dizer que "se a mãe do aprendizado é a motivação, o pai é a repetição". O suposto erro indica  falha no aprendizado, "ah, mas foi apenas um branco!". Sim, "brancos" existem, mas são raros, não podemos culpá-los por tudo. O provável de ter ocorrido: quando daquele estudo, baixa  fixação. Ou seja, não houve uma chave de memória eficaz a fim trazê-lo de volta a nível consciente. Depois, tudo o que não se usa com regularidade, acaba mesmo caindo no esquecimento.

Portanto, é importante fazermos esta distinção: saber algo é uma situação; poder resgatá-lo à memória consciente, quando necessário, é outra inteiramente distinta. E, para tanto, para grandes volumes de informação, existem técnicas de memorização, cujo aprendizado não é finalidade deste blog. Porém, importante sabermos de sua existência. Considero o desenvolvimento da memorização como de grande importância dentre as chamadas técnicas de estudo.

Também, o erro é importante para o aprendizado da vida. Já diz o ditado: "Errar é humano, repetir o erro é burrice". Para isso, existe o aprender com os erros, a fim de aperfeiçoarmos nossos passos, evitar que caiamos nas mesmas armadilhas.


Seria bom se, como no teatro, tivemos duas vidas: uma para ensaiar, outra para atuar. Mas não é bem assim que acontece.

Ainda hoje me lembro de um dia em que conversava com meu amigo Ciro Carvalho (e ele não se lembra do fato) e eu falava de como a gente aprende com as dores do mundo, pois eu vivia momentos de fortes tribulações. E ele, pela fé em sua doutrina, explicou-me: também aprendemos pelo amor. Portanto, a partir deste dia, fiquei sabendo: tanto a dor quanto o amor são fontes de aprendizado.

Para quem tem um mínimo de bom-senso, a segunda opção mostra-se muito mais interessante.

Dela, importante é fazermos uso (e axé para todos nós, amigo visitante).


Obs.: Axé é palavra de origem africana e significa boa sorte, felicidades.

Mulher que abandona filhos não fala

Essa é a chamada que leio para a notícia do jornal. Fico curioso. Ora bolas, que ligação pode haver entre a mulher abandonar os filhos e ser muda? Logo no início leio que "a mulher que abandonou os três filhos pequenos, sozinhos, durante dois dias, sem qualquer assistência...". Bom, tenho de abandonar a generalização que pensei existir no título "mulher que abandona filho", como um provérbio universal.

Digo "a generalização que pensei existir no título" pois a estrutura desta frase nos remete às máximas, pois delas tem a mesma estrutura sintática. Exemplificando: "Pedra que muito rola não cria limo", "Quem tudo quer nada alcança", "Macaco que muito salta quer chumbo".


Seguindo a leitura da notícia, descubro que a mulher foi até o Conselho Tutelar, para onde as crianças haviam sido inicialmente encaminhadas e, entretanto, "não esperou atendimento e foi embora SEM DAR EXPLICAÇÃO". As crianças, com idades entre um e três anos, foram recolhidas para uma casa de assistência ao menor.

Ora bolas, mais uma vez, então a mulher não é muda (mulher que não fala), apenas compareceu ao Conselho Tutelar da região, não pode ou não quis esperar atendimento, dar explicações, e se escafedeu.

Portanto, fica fácil perceber a inadequação do título da notícia, cuja melhor expressão seria "MULHER QUE ABANDONOU FILHOS SE CALA".

Percebam como o pretérito perfeito (abandonou) dá a ideia de situação acabada, fato consumado. Também, percebam como o presente do indicativo (abandona), igual aos provérbios, costuma ser bem utilizado para expressar uma verdade universal, uma declaração inconteste, como "A Terra gira em torno do Sol". E, quando pronominal (calar-se), assume o significado de guardar silêncio, não falar: "O menino calou-se diante da reprimenda materna".

Era o que tinha para hoje. Logo, por mais uma vez, cuidado com as palavras (elas significam... e muito).

quinta-feira, 1 de março de 2012

Linguagem, língua e fala

Convém falarmos hoje de três princípios que se encontram na base de todo e qualquer estudo na área da Linguística: linguagem, língua e fala.

A linguagem, o mais complexo dos três, trata-se de todo e qualquer sistema de signos simbólicos utilizados para a intercomunicação social, a fim de expressarmos e comunicarmos ideias e sentimentos, ou seja, tudo aquilo que podemos chamar por conteúdo de consciência.


A linguagem, portanto, estende-se além do tradicional conceito da atividade humana do falar para todo e e qualquer sistema de signos que transmita conteúdo de consciência, como são, por exemplo, as diversas formas de expressão artística: música, pintura, escultura, canto, dança etc. Portanto, devemos entender o aspecto de intercomunicação social da linguagem como um "estar no mundo com os outros".

Lembramos que, apesar de usarmos o termo linguagem animal, na acepção plena da palavra, estes não a contemplam, até por não possuírem aparelho fonador especializado como os humanos. Os animais, em si, mantêm apenas um código básico de comunicação, sem que exista aquilo que chamamos por "diálogo"; portanto, este não se oferece como um substituto à experiência, não se transmite no tempo e no espaço. Também, essa comunicação é de conteúdo restrito, limitado, o qual não pode ser decomposto em unidades menores. Resumindo: o único animal que simboliza é o homem. E, a partir dessa característica, surge a possibilidade de comunicação interpessoal.


O estudo da Linguística restringe-se à linguagem verbal humana. Aos outros sistemas de signos atende-se pelo estudo da Semiótica.

Posto isso, vamos para a nossa segunda definição: a língua.

A língua, além de um sistema de valores que se opõem uns aos outros, é um conjunto de convenções adotadas por uma comunidade linguística com o intuito de, como dito anteriormente, se comunicarem entre si. Portanto, são todas as convenções adotadas, ao longos dos anos, por determinada sociedade, de modo que, cada um de nós, individualmente, dela pode fazer uso, mas não modificá-la (essencialmente, por se tratar de produto social).


Grosso modo, podemos dizer que a língua está inserida, é subconjunto, de algo maior: a linguagem.

A seguir, temos a fala, ou parole, que é a utilização pessoal feita pelo indivíduo em um ato concreto de comunicação, ou seja, a língua manifestada por vontade individual. Novamente, podemos dizer que a fala é extraída de algo maior, é subconjunto, daquilo que definimos como língua.

Portanto, temos a língua como um manancial, um estoque infindável, de material léxico e gramatical. Deste, como falantes, fazemos uso do que necessitamos - água na qual nos banhamos, ou dela nos apropriamos, de acordo com a necessidade.

Linguagem, língua e fala, portanto, estão aí apresentadas. Esperando ter contribuído para despertar no leitor (ou escritor) não acadêmico um desejo de aprofundamento no campo da Linguística, preparo material de interesse para suas próximas visitas.

Hasta la vista, baby.