terça-feira, 23 de outubro de 2012

Eros e Psique, Fernando Pessoa


Olá, amigos, quem me conhece sabe que não sou de ficar publicando poesia no meu blog (nem minha nem dos outros), porém, esta é uma das minhas prediletas e vira e mexe volta à minha cabeça. É do grande Fernando Pessoa e travei conhecimento com este texto há muitos anos, a partir da declamação de Maria Bethânia gravada em um de seus discos (na época, ainda LP), e que era repetida em seus shows. A partir de então, retornei ao texto inúmeras vezes, em áudio e também nos livros do poeta português.


Então, vai o link aí em cima da excelente declamação da Bethânia, e o texto de Pessoa aí embaixo.

            EROS E PSIQUE
      Conta a lenda que dormia
      Uma Princesa encantada
      A quem só despertaria
      Um Infante, que viria
      De além do muro da estrada.

      Ele tinha que, tentado,
      Vencer o mal e o bem,
      Antes que, já libertado,
      Deixasse o caminho errado
      Por o que à Princesa vem.

      A Princesa Adormecida,
      Se espera, dormindo espera,
      Sonha em morte a sua vida,
      E orna-lhe a fronte esquecida,
      Verde, uma grinalda de hera.

      Longe o Infante, esforçado,
      Sem saber que intuito tem,
      Rompe o caminho fadado,
      Ele dela é ignorado,
      Ela para ele é ninguém.

      Mas cada um cumpre o Destino
      Ela dormindo encantada,
      Ele buscando-a sem tino
      Pelo processo divino
      Que faz existir a estrada.

      E, se bem que seja obscuro
      Tudo pela estrada fora,
      E falso, ele vem seguro,
      E vencendo estrada e muro,
      Chega onde em sono ela mora,

      E, inda tonto do que houvera,
      À cabeça, em maresia,
      Ergue a mão, e encontra hera,
      E vê que ele mesmo era
      A Princesa que dormia.

Quem quiser conhecer a lenda, basta pesquisar no Google, vale a pena (mitologia sempre nos surpreende).

Abraço aos amigos.