Algumas cidades do litoral, além dos tradicionais turistas,
costumam receber um grande contingente de moradores de rua vindo de outras
regiões.
Como pode ser rapidamente descoberto, a maioria esmagadora
desses pedintes, sem-teto, chegou a esse estado por toxicodependência,
alcoolismo ou problemas de natureza psiquiátrica. O estado de dependência
química e moral dessas pessoas é tal que, por si só, dificilmente encontram
forças de reação para saírem dessa situação que, sinceramente, considero muito estranho qualquer
pessoa intelectual ou filosoficamente ativa possa considerar como escolha
pessoal.
Ainda hoje, dei atendimento a um deles, um ex-diretor de
empresa que, devido ao alcoolismo, chegou a essa situação de morador de rua, e
saiu perambulando por aí. Perguntado, disse ser natural de Balneário Camboriu,
Santa Catarina, e optou em morar na cidade de Santos porque, quando na ativa,
veio fazer um trabalho aqui na cidade e gostou. Também, nesta cidade encontrou
o auxílio-social que não encontra em sua cidade natal, e, por aqui, aos poucos,
pretende retomar a vida.
No geral, a cidade oferece um aparato social de atendimento
que, se não é perfeito, pelo menos, tem servido de modelo para outros
municípios. E me orgulho de fazer parte de um deles, a Defensoria Pública da
União — DPU, onde damos assistência jurídica a pessoas hipossuficientes.
Portanto, é com contentamento que digo participar ativamente em conseguir
juridicamente alguma ajuda financeira a essas pessoas por meio dos instrumentos
legais existentes.
Há menos de duas semanas, um artigo do amigo e médico psiquiatra
Thiago Fidalgo, coordenador de importante programa para dependentes químicos
(PROAD/UNIFESP), publicado na Folha de São Paulo, de forma técnica, por meio de
pesquisas da Fiocruz, divulgou que 80% dos dependentes de crack desejam tratamento, mas somente 20% conseguem
ter acesso ao sistema de saúde, e por aí vai. E da necessidade da forte intervenção
do Estado em alimentação, moradia ou de alguém para simplesmente ajudar a tirar
de novo os documentos perdidos. No caso de meu trabalho, a Defensoria da
União auxilia nas questões jurídicas de BPC-LOAS, auxílio-doença ou aposentadoria,
além de encaminhamento para outros órgãos públicos.
O que me incomoda, porém, e que me levou a escrever esse
artigo?
É caso parecido ao que ocorre em Santos está acontecendo em
Canasvieiras, uma praia de Florianópolis, e parte da população saiu às ruas
exigindo providências dos órgãos públicos municipais, estaduais e ou federais,
para a solução do problema.
E estão sendo tachados de fascistas, que desejam a “limpeza
social” (!). São ameaçados fisicamente e universitários distribuem panfletos
pró-moradores de rua (!).
Foto da manifestação, clique para ampliar
É óbvio que ninguém está querendo acabar com a pobreza
querendo acabar com os pobres, como queria o Justo Veríssimo, personagem político
clássico de Chico Anísio; mas sim atuação dos poderes públicos para minimização
do problema. Basta assistir ao vídeo da mesa-redonda promovida na região e
rapidamente isso fica bem claro. Então, de novo, por que fascismo higienizador?
Poderia ficar aqui elencando um grande número de inconvenientes
e problemas trazidos por essas invasões de moradores de rua, porém, desnecessário
me estender nisso. Prefiro expressar meu estranhamento quanto a considerar
fascismo o fato de querer atuação dos poderes públicos em grave problema social.
Um resquício, talvez, do pensamento da Sociedade Alternativa, de Raul Seixas,
onde qualquer homem tem o direito de viver como quiser e morrer como quiser,
como se você pudesse estacionar o seu veículo em local público, ligar um
conjunto diabólico de caixas acústicas e promover bailes funks, como fazem, sem
que os moradores do local possam reclamar de algo, porque “cada um tem o
direito de fazer o que quiser de sua vida” (!).
Ou partem do pensamento de uma esquerda tendenciosa que tem
interesse em se alimentar dessa miséria toda, e que não consigo abarcar? (lembrando
de que familiares meus estiveram na fundação dos movimentos anarquistas e comunistas
no Brasil, tendo sido o pensamento de minha família pautado nesta tônica ao
longo dos anos).
Ajuda social, fascismo higienizador ou o quê?
Deixo ao cargo
do leitor a resposta.
Então, para quem tiver interesse, vai aí mais um artigo que ratifico que escrevi, e ação promovida no dia de Natal por vários líderes religiosos em plena cracolândia de São Paulo. Será que também vão chamá-los de fascistas ou considerar a ação higienizadora?
ResponderExcluirhttp://br.noticias.yahoo.com/tr%C3%A9gua-natal-cracol%C3%A2ndia-sp-110100784.html