sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Ajuda social ou fascismo higienizador?

Algumas cidades do litoral, além dos tradicionais turistas, costumam receber um grande contingente de moradores de rua vindo de outras regiões.

Como pode ser rapidamente descoberto, a maioria esmagadora desses pedintes, sem-teto, chegou a esse estado por toxicodependência, alcoolismo ou problemas de natureza psiquiátrica. O estado de dependência química e moral dessas pessoas é tal que, por si só, dificilmente encontram forças de reação para saírem dessa situação que, sinceramente, considero muito estranho qualquer pessoa intelectual ou filosoficamente ativa possa considerar como escolha pessoal.


Ainda hoje, dei atendimento a um deles, um ex-diretor de empresa que, devido ao alcoolismo, chegou a essa situação de morador de rua, e saiu perambulando por aí. Perguntado, disse ser natural de Balneário Camboriu, Santa Catarina, e optou em morar na cidade de Santos porque, quando na ativa, veio fazer um trabalho aqui na cidade e gostou. Também, nesta cidade encontrou o auxílio-social que não encontra em sua cidade natal, e, por aqui, aos poucos, pretende retomar a vida.

No geral, a cidade oferece um aparato social de atendimento que, se não é perfeito, pelo menos, tem servido de modelo para outros municípios. E me orgulho de fazer parte de um deles, a Defensoria Pública da União — DPU, onde damos assistência jurídica a pessoas hipossuficientes. Portanto, é com contentamento que digo participar ativamente em conseguir juridicamente alguma ajuda financeira a essas pessoas por meio dos instrumentos legais existentes.


Há menos de duas semanas, um artigo do amigo e médico psiquiatra Thiago Fidalgo, coordenador de importante programa para dependentes químicos (PROAD/UNIFESP), publicado na Folha de São Paulo, de forma técnica, por meio de pesquisas da Fiocruz, divulgou que 80% dos dependentes de crack  desejam tratamento, mas somente 20% conseguem ter acesso ao sistema de saúde, e por aí vai. E da necessidade da forte intervenção do Estado em alimentação, moradia ou de alguém para simplesmente ajudar a tirar de novo os documentos perdidos. No caso de meu trabalho, a Defensoria da União auxilia nas questões jurídicas de BPC-LOAS, auxílio-doença ou aposentadoria, além de encaminhamento para outros órgãos públicos.


O que me incomoda, porém, e que me levou a escrever esse artigo?

É caso parecido ao que ocorre em Santos está acontecendo em Canasvieiras, uma praia de Florianópolis, e parte da população saiu às ruas exigindo providências dos órgãos públicos municipais, estaduais e ou federais, para a solução do problema.

E estão sendo tachados de fascistas, que desejam a “limpeza social” (!). São ameaçados fisicamente e universitários distribuem panfletos pró-moradores de rua (!).

Foto da manifestação, clique para ampliar

É óbvio que ninguém está querendo acabar com a pobreza querendo acabar com os pobres, como queria o Justo Veríssimo, personagem político clássico de Chico Anísio; mas sim atuação dos poderes públicos para minimização do problema. Basta assistir ao vídeo da mesa-redonda promovida na região e rapidamente isso fica bem claro. Então, de novo, por que fascismo higienizador?


Poderia ficar aqui elencando um grande número de inconvenientes e problemas trazidos por essas invasões de moradores de rua, porém, desnecessário me estender nisso. Prefiro expressar meu estranhamento quanto a considerar fascismo o fato de querer atuação dos poderes públicos em grave problema social. Um resquício, talvez, do pensamento da Sociedade Alternativa, de Raul Seixas, onde qualquer homem tem o direito de viver como quiser e morrer como quiser, como se você pudesse estacionar o seu veículo em local público, ligar um conjunto diabólico de caixas acústicas e promover bailes funks, como fazem, sem que os moradores do local possam reclamar de algo, porque “cada um tem o direito de fazer o que quiser de sua vida” (!).

Ou partem do pensamento de uma esquerda tendenciosa que tem interesse em se alimentar dessa miséria toda, e que não consigo abarcar? (lembrando de que familiares meus estiveram na fundação dos movimentos anarquistas e comunistas no Brasil, tendo sido o pensamento de minha família pautado nesta tônica ao longo dos anos).

Ajuda social, fascismo higienizador ou o quê?

Deixo ao cargo do leitor a resposta. 


Um comentário:

  1. Então, para quem tiver interesse, vai aí mais um artigo que ratifico que escrevi, e ação promovida no dia de Natal por vários líderes religiosos em plena cracolândia de São Paulo. Será que também vão chamá-los de fascistas ou considerar a ação higienizadora?

    http://br.noticias.yahoo.com/tr%C3%A9gua-natal-cracol%C3%A2ndia-sp-110100784.html

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