sábado, 15 de setembro de 2012

Duas perguntas (e nenhuma resposta) sobre futebol

Danilo
(clique e veja o brinquinho)
Ocorre o seguinte, nesses dias eu vi na televisão o jogador Danilo, atualmente no Corínthians, dando uma entrevista e rodeado de  repórteres. O que me chamou mais atenção, porém, é que sempre achei o Danilo, além de um excepcional jogador, um sujeito bastante sério e equilibrado e, para minha surpresa, ele estava de brinquinho e correntão de ouro, daqueles que estão acostumados a usar tanto os jogadores quanto os pagodeiros de plantão.

Confesso, tem uns jogadores que, em minha opinião, fogem da mediocridade que é o futebol, como sempre considerei este jogador a quem me refiro. Aliás, acompanho entrevistas do Danilo desde quando jogador do São Paulo Futebol Clube. Então, ao vê-lo embarcando nessa mesma onda, exclamei em voz alta: "Até tu, Brutus?".

Portanto, aqui vai a primeira pergunta:

Por que jogador de futebol gosta tanto de usar brinquinho?


Neymar Júnior

Léo Moura

Ronaldinho Gaúcho
Por favor, eventuais respostas podem ser postadas nos comentários.

A segunda questão é deveras interessante. Não sei onde nem por quê, algum jogador resolver tirar a camisa e começar a girá-la ao vento após marcar um gol, outros, a lançá-la fora, e tal procedimento se espalhou feito epidemia. 

Ballotelli
Em minha opinião, que curto futebol bastante de longe, é uma baita burrice, pelos seguintes motivos:

  • Por orientação da FIFA, o sujeito leva cartão amarelo;
  • Se já tiver um cartão amarelo, leva o segundo, portanto, toma o vermelho e é expulso;
  • Cada cartão implica um pagamento de multa;
  • E pior: no momento em que todas as televisões estão de olho (no momento do gol), exatamente nas cenas que serão repetidas inúmeras vezes, e em certos casos munto afora, o sujeito tira a camisa de modo a que NÃO APAREÇA O NOME DO PATROCINADOR TAMPOUCO O ESCUDO DO CLUBE.

Então, imagine, você patrocinador fecha um contrato de parceria com um clube, os jogadores se beneficiam disso, deseja divulgar a sua marca e, exatamente no momento de maior divulgação, de  mais pontos no Ibope, de forma ensandecida, o tal jogador joga a sua marca (e a do clube) ao léu, apenas para mostrar os músculos (?!).

Está lançado o segundo enigma, portanto, faço a seguinte pergunta:

Por que jogador gosta tanto de tirar a camisa quando faz gol?


Será que os clubes abatem essas multas do ganho do jogador? Duvido. Será que os patrocinadores não reclamam com os clubes? Acho estranho.

Jogadora da Colômbia
Até no futebol feminino a moda já pegou, apesar delas usarem um protetor de seios (foto acima). 

São duas questões que, honestamente, me intrigam e peço ajuda aos visitantes do blog que me ajudem a esclarecer.

  
Bastian Scheinsteinger

E, para finalizar, quanto aos brinquinhos, para quem tiver interesse, deixo abaixo o modelo que encontrei no Mercado Livre, recomendado "para jogadores e para pagodeiros".

Aliás, com o frete grátis.


 Por hoje, é só. Abraço aos amigos.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Sobre o amor e o amar



Amar é verbo. Diz a gramática que verbo é palavra variável que indica um processo, isto é, aquilo que se passa no tempo. Sendo assim, os verbos têm aspecto dinâmico, ao contrário dos nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) que, ao representarem o mundo dos objetos, têm um aspecto estático. Os verbos podem indicar, também, estado, existência, fenômeno da natureza etc.
Temos o hábito, porém, de pensarmos a palavra “amar” como a citada imagem estática — talvez pelo fato de “amar” ser um verbo transitivo direto, quem ama, ama alguma coisa ou alguém. Assim: João ama Maria (ponto). Note o parecer estático da frase. Parece indicar apenas um estado, como fosse verbo de ligação. Exemplo: Joana está bonita. Pronto, indicou um estado, portanto, seu sentido é estático.
“João ama Maria” vai passar rapidamente para o pretérito se João, ou Maria, continuarem considerando o referido verbo como de ligação. Passará, então, a frase para um “João amava Maria”, indicando novo estado — paixão que se estendeu no passado, agora em situação acabada, de abandono.


“Amar” é parecido, como processo dinâmico, com o verbo “alimentar”. João alimenta Maria (ponto). Agora, sim, temos uma visão melhor do significado de amar. Alimentar é algo que ocorre, em média, três vezes ao dia: café, almoço e jantar. Normalmente ainda damos umas beliscadinhas entre as refeições e buscamos sempre, geralmente aos domingos e festividades, uma mesa farta que nos satisfaça além da necessidade habitual. Ora, se apenas uma dessas citadas refeições nos é suprimida sentimos uma sensação de mal-estar, o que dizermos então de várias dessas refeições suprimidas sucessivamente dia após dia, meses após meses? Evidentemente sentiremos fraqueza e nosso estado físico passará de uma condição saudável a uma condição de subnutrição. Haverá uma deficiência calórica, a saúde será comprometida e, provavelmente, chegará o indivíduo à morte.
Assim é o amor. Quando estabelecido entre duas pessoas, um processo de dupla alimentação, de querer bem, de tratar bem ao outro, de um tanto ser nutrido quanto nutrir ao outro. No mundo dos negócios, a essa característica, dá-se o nome de negociação ganha-ganha. Em outras palavras, ambas as partes lucram. Na biologia, chamamos por simbiose. Não importa se um lucra um pouco mais, se o outro lucra um pouco menos; o que importa é que eles se complementam e garantem o benefício mútuo da associação.


O conceito de amor sofreu profundas variações ao longo da história humana; desde o primal “possuir por instinto” passando pelo conceito da pura conveniência social. Mantém-se, porém, um elemento básico em tudo isso: somos animais sociais, necessitamos uns dos outros. Quanto ao homem e à mulher, essa necessidade atinge patamares psíquicos e emocionais, além do tradicional físico — não querendo me estender em assuntos místicos.
Desde o final do segundo e início de terceiro milênio, estamos sendo assolados pela ruptura dos conceitos e padrões socialistas, caindo por terra o sofrido e conquistado meio-termo: o que poderíamos chamar de social-democracia. O capitalismo assumiu a hegemonia sobre os fatores que envolvem uma sociedade, como: decisões econômicas, políticas, mídia, hábitos, costumes, tudo digerido pela gigante máquina de triturar que é o atual consumismo acelerado. A necessidade desenfreada de acumulação de capital levou o homem a um processo de acirramento da disputa, de um processo de globalização que atende aos grandes interesses econômicos de acumulação de capital, deixando o elemento homem, e valores sociais, renegados a segundo plano. A ideia vendida de globalização e o pseudo cooperativismo inibe e traz retrocessos a anteriores conquistas sociais, ampliando o fosso entre ricos e pobres ocorrendo mais e mais a imbecilização da classe proletária.
Ao amor, dentro da sociedade acima descrita, cabe um novo papel: ser substituído por um conceito mais comercial: sexo. Um produto que, com certeza, gera grandes receitas e, consequentemente, maior acúmulo de capital. Em resumo, o amor virou mercadoria.


O homem deste início de terceiro milênio me parece muito com aquele homem barroco, que se encontrava sempre em conflito, dividido entre formas opostas de pensar: o teocentrismo medieval e o antropocentrismo renascentista. A tecnologia, as mudanças provocadas pela informática e biotecnologia deram respostas produtivas, mas não morais, e tampouco espirituais, em relação às necessidades do homem contemporâneo. E é nessa busca conflitante que nos encontramos, beirando a demência e o surrealismo. Produzimos, destruímos, poluímos, mas defendemos a preservação do meio-ambiente. Acreditamos que é preciso fé religiosa, mas transformamos as igrejas em grandes centros de acumulação de capital — de modo que elas não correspondem mais aos nossos anseios espirituais. Criamos mecanismos para ditar melhor colaboração entre os países, mas ampliamos cada vez mais o fosso econômico entre nações ricas e pobres. Dizemos que é preciso cuidar dos menos favorecidos, mas não damos mais nem atenção aos nossos próprios filhos. Dizemos buscar alguém que nos complemente, mas, na prática, almejamos emoções, aventuras e toda espécie de prazer sexual que possa satisfazer, ainda que por curto espaço de tempo, a essa nova necessidade imposta por um mundo individual e consumista.
Para suprir tantas necessidades que deixam de ser latentes a cada momento, temos de ter sempre novos produtos que atendam essas emoções. Televisores de telas grandes, videogames, computadores de última geração, aparelhos de realidade virtual, novos modismos e novos ídolos musicais, entretenimentos diversos, enfim, produtos dos mais diversos tipos que possam ser encontrados no grande supermercado que virou o nosso dia a dia. O importante é o consumo rápido, fast e junk food, descarte das antigas e busca das mais recentes necessidades criadas por um sistema que nos bombardeia com o já conhecido mote: consuma, seja alguém, consuma.


A tentativa da prática do amor, no panorama atual, fica restrita à insistência de alguns poucos; como o conhecimento guardado pelos sacerdotes ao longo do obscuro período da Idade Média. Até que novos tempos os tragam de volta, à luz. Ainda assim, por mais que se resista, até para esses tolos incorrigíveis, é difícil resistir a não adaptação do bom e velho amor a certos requintes da modernidade. 


terça-feira, 4 de setembro de 2012

A pizza ruim de português

Indicada por um amigo, entrei na internet e fiz o pedido. Tudo como uma pizzaria deve ser: opção variada de sabores, qualidade compatível com o preço, atendimento rápido, pagamento em maquininha que trouxeram até minha residência, massa de qualidade, cobertura farta e saborosa.

Tudo caminhava bem, até o momento em que ao trazer à boca um pedaço da especial de abobrinha, eu olhei para a caixa e percebi uma informação ao consumidor sobre o horário de funcionamento, em que literalmente se lia:

Aberto de Segunda a
Segunda, de 12 às 00hs


Bom, ocorre que em tão curta mensagem existe um daqueles joguinhos dos 7 erros. Vamos encontrá-los?!



Em português, quando não iniciando período, os dias da semana e os meses devem ser escritos com letras minúsculas. Para quem estuda inglês, relembro, eles escrevem os meses e os dias de semana iniciando com maiúsculas, porém, em português, minúsculas sempre. Portanto: "Aberto de segunda a segunda".

A outra questão é sobre a grafia das horas, porém, já postei aqui mesmo no blog artigo a esse respeito, e sobre as unidades de medida em geral. Portanto, vou retomar o tema por cima, quem quiser saber mais, clique em http://marciocallegaro.blogspot.com.br/2012/03/como-escrever-as-horas-e-os-minutos.html. As unidades de medidas NÃO LEVAM "S" NO PLURAL, portanto: 3h, 9h, 12h, 23h etc.

Igualmente, no caso de zero hora, é 0h mesmo, não precisa repetir o zero, não existe valor para o zero a esquerda, assim como as pessoas grafam indevidamente os dias  02, 05, 08 etc. Não há necessidade. Por exemplo 2 de fevereiro e não 02 de fevereiro. Inclusive, as gramáticas e os manuais de redação (como a da Presidência da República) assim o indicam.

Outro problema que pouca gente se atenta é o seguinte: 24h e 0h, tecnicamente, é o mesmo exato momento (meia-noite).  Vou dar um exemplo real, e que me confundiu muito quando adolescente. Na minha certidão de nascimento diz que eu nasci às 24h do dia 12 de julho. Ora bolas, eu nasci de 11 para 12 ou eu nasci de 12 para 13?

Então, a gente grafa assim: quando se quer destacar a hora em que tal dia se inicia, grafa-se 0h; quando se quer destacar a hora em que tal dia termina, grafa-se 24h. Portanto, o dia 12 de julho começa às 0h e termina às 24h. Entendeu? Portanto, eu nasci na passagem de 12 para 13 de julho.

É simples, mas a mente da gente dificilmente se atenta para o fato, por isso se confunde - como se atrapalhou quem redigiu tal informação na caixa da pizza.

Então, o estabelecimento comercial fica aberto das 12 às 24h, porque o tempo vai para "a frente" e não volta "para trás".


O outro problema é uma situação de crase que pouca gente conhece (atenção concurseiros), e que vou começar explicando que crase é o encontro do "a" artigo com o "a" preposição, logo, precisa haver esses dois "as" para que a crase exista. Até aí, nenhuma novidade.

"Da", é a junção da preposição "de" mais o artigo "a". Portando, quando escrevemos "de", não existe o artigo; quando escrevemos "da", existe o artigo aí embutido.

Por consequência, se você escreve "de 12h as 24h", não se leva a crase porque, por paralelismo, se você não usou o artigo junto à preposição, também não deve usá-lo no restante da expressão. Então, não existe mais o encontro dos dois "as" e não deve haver crase. O  inverso é igualmente verdadeiro: "das 12h às 24h", porque você usou o artigo no primeiro termo, então, vai usar também no segundo, acarretando o encontro dos dois "as", portanto, crase.

Ainda tem dúvida? É fácil, basta seguir a regra de ouro da crase (que tudo mundo já aprendeu na escola): troque a palavra feminina por uma masculina e veja se aparece "ao" (preposição + artigo masculino). Uma palavra qualquer, não precisa ser necessariamente sinônimo ou, como em nosso caso, não precisa ser número. Vou inverter as horas para o leitor notar melhor: meio-dia é masculino (o meio-dia) e meia-noite é feminino (a meia-noite).

De meia-noite a meio-dia (não apareceu ao)

Da meia-noite ao meio-dia (apareceu o ao, logo, crase)

Paralelismo gramatical significa, em nosso caso, se você usou determinada estrutura no primeiro termo  de uma expressão, por paralelismo, deve repetir no segundo termo para dar coerência. Funciona assim também para as orações. Quem tiver dúvida, sugiro procurar em sua gramática ou jogar no Google.

Portanto, para os dizeres da caixa de pizza, o correto seria:

Aberto de segunda a
segunda, de 12h a 24h


ou

Aberto de segunda a 
segunda, das 12h às 24h


Opto pela segunda, porque soa melhor: "das doze horas às vinte e quatro horas" ou, melhor ainda, a gente interpreta direto, "do meio-dia à meia-noite".

E a postagem de hoje, amigos, certamente acaba em pizza.