sábado, 24 de março de 2012

Mulher que abandona filhos não fala

Essa é a chamada que leio para a notícia do jornal. Fico curioso. Ora bolas, que ligação pode haver entre a mulher abandonar os filhos e ser muda? Logo no início leio que "a mulher que abandonou os três filhos pequenos, sozinhos, durante dois dias, sem qualquer assistência...". Bom, tenho de abandonar a generalização que pensei existir no título "mulher que abandona filho", como um provérbio universal.

Digo "a generalização que pensei existir no título" pois a estrutura desta frase nos remete às máximas, pois delas tem a mesma estrutura sintática. Exemplificando: "Pedra que muito rola não cria limo", "Quem tudo quer nada alcança", "Macaco que muito salta quer chumbo".


Seguindo a leitura da notícia, descubro que a mulher foi até o Conselho Tutelar, para onde as crianças haviam sido inicialmente encaminhadas e, entretanto, "não esperou atendimento e foi embora SEM DAR EXPLICAÇÃO". As crianças, com idades entre um e três anos, foram recolhidas para uma casa de assistência ao menor.

Ora bolas, mais uma vez, então a mulher não é muda (mulher que não fala), apenas compareceu ao Conselho Tutelar da região, não pode ou não quis esperar atendimento, dar explicações, e se escafedeu.

Portanto, fica fácil perceber a inadequação do título da notícia, cuja melhor expressão seria "MULHER QUE ABANDONOU FILHOS SE CALA".

Percebam como o pretérito perfeito (abandonou) dá a ideia de situação acabada, fato consumado. Também, percebam como o presente do indicativo (abandona), igual aos provérbios, costuma ser bem utilizado para expressar uma verdade universal, uma declaração inconteste, como "A Terra gira em torno do Sol". E, quando pronominal (calar-se), assume o significado de guardar silêncio, não falar: "O menino calou-se diante da reprimenda materna".

Era o que tinha para hoje. Logo, por mais uma vez, cuidado com as palavras (elas significam... e muito).

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