sexta-feira, 8 de junho de 2012

"Auld Lang Syne" ou, se preferir, "Farewell Waltz"


Durante um bom tempo mantive uma assinatura no final dos meus e-mails, de autoria própria, que era a seguinte: "Faço arte porque sou teimoso". Recordo-me de um ou dois amigos comentarem o fato e sugerirem algum remendo ideológico (algo como se a arte fosse superior a questões econômicas ou mesmo àquelas do nosso dia a dia).

O que talvez me difira das pessoas com quem convivo diariamente, e que lidam com arte (sem que este "diferir" tenha qualquer sentido de superioridade), é que tive formação anterior em Marketing e trabalhei por longos anos como Gerente de Produto em grandes empresas do varejo, as maiores do mercado. Portanto, vivia do resultado mensal, isto é, um número enorme de pessoas dependia daquilo que meu setor conseguisse desempenhar, muitas vezes, o próprio resultado comercial da empresa. E a pressão, evidentemente, não era pouca, a ponto de ter tido úlcera aos 28 anos e, aos 35, ficar internado por 4 dias no Hospital Samaritano, em São Paulo, a fim de fazer uma bateria absurdamente grande de exames.


Tudo isso fez com que, ao longo dos anos, eu desenvolvesse um pensamento de que seu trabalho precisa necessariamente obter resultado, e o resultado, geralmente, é medido pelo retorno econômico que ele possa dar. Porém, ainda assim, considero que certas conquistas, principalmente aquelas de cunho pessoal, ainda que não resultem retorno econômico, possam ser consideradas grandes conquistas, conquanto improdutivas economicamente. Aliás, não medir meu desempenho ou meu resultado de vida por meio do quanto recebo de retorno econômico sempre foi, no passado, minha tônica de vida. Porém, desde 1997, mudei bastante essa forma de pensar.

Quando vim para Santos, aliás um dos principais motivos para a decisão de morar aqui, foi o investimento no segmento da arte. Para tanto, optei em sair do varejo, reduzir meu ganho profissional (recusando trabalhos em cidades outras do Brasil) para atuar na área pública, ainda que ganhando nominalmente um terço do ganhava antes (isso mesmo, acredite se quiser, mas é fato). Inicialmente, optei em desenvolver a dramaturgia; depois, outros gêneros foram se somando, porém, todos eles, com pensamento profissional. Aliás, sobre esse último termo, gostaria de me estender um pouco.

Na minha cabeça, e no dicionário, profissional se opõe a amador. Explico melhor: profissional é aquele que tem determinada atividade COMO FONTE DE RENDA, ou seja, vive daquilo, do que produz. Em oposição, amador é aquele que exerce determina atividade por prazer (puro diletantismo)  E NÃO POR PROFISSÃO.

Improvisando: a gente sempre dá um jeito

Para tanto, para me profissionalizar, gastei (e tenho gasto) na minha formação acadêmica, assim como na divulgação de meu trabalho. Estou certo de que os amigos mais próximos sabem do meu esforço em realizar o melhor trabalho possível, assim como meu comprometimento naquilo que faço.

Ocorre que, infelizmente, as decepções têm sido uma constante além do retorno econômico estar exaustivamente no vermelho, ou seja, continuo gastando daquele um terço do que ganhava, sacrificando minha vida pessoal, para continuar mantendo minha atividade artística. E continuo não recebendo pelo que produzo ou já produzi. Resultado: cansei.

Não tenho vocação para Kafka, que manteve até o final seu compromisso com a arte, porém, bancado pelo pai, pela quase totalidade do tempo e, quando tentou se libertar economicamente, morreu tuberculoso, trabalhando como garçom em bares de segunda categoria, e ainda teve de ser trazido de volta para casa, pelo tio, a fim de que, pelo menos, tivesse uma morte digna. Sigo a cartilha da  Dercy Gonçalves: dispenso homenagens póstumas.

Túmulo de Franz Kafka (Praga, República Checa)

Vou continuar estudando, me preparando (cada vez melhor) para trabalhos remunerados. Pretendo participar de workshops no exterior (gasto de U$ 4,000) e mestrado também por lá (U$ 12,000 tuition), quem puder me indicar algum mecenas, agradeço. Enquanto isso, deixo com os amigos uma canção antiga, que, quando criança, escutava em um velho disco de 78 rpm na casa do meu avó, que ainda tinha daquelas antigas radiovitrolas (risos). Por aqui, é conhecida por Valsa da Despedida, gravada pelo Francisco Alves em dueto com a Dalva de Oliveira.

http://www.youtube.com/watch?v=nd2o6h-vm6w

O original intitula-se Auld Lang Syne (Farewell Waltz) que foi trilha sonora do filme, ainda em branco e preto, Waterloo Bridge, cuja música, além das belíssimas cenas, pode ser conferida em:

http://www.youtube.com/watch?v=eG3afAIi6IQ&feature=related

E para aqueles que pensam que somente me ligo nessas músicas (e filmes) porque estou ficando velho (o que não deixa de ser  um fato), deixo aqui a versão comemorativa pop-dance de Auld Lang Syne gravada pela  Mariah  Carey.

http://www.youtube.com/watch?v=Aop6YF1Xqqg

A escolha, fica a seu encargo.

2 comentários:

  1. Li. Compreendi. Estou com os olhos um tanto estatelados diante da tela e meio catatônica mas...depois de tanta sinceridade... É isso! Beijos. amigo.

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  2. É, meu caro...

    Já cheguei a conclusão de que trabalho com tradução, dou minhas aulas de inglês e com eles pago as contas. Se sobrar, viajo ou publico. E vou levando a vida.

    Não sei se tenho mais saúde para trabalhar em grandes corporações e atingir metas. Minha última experiência com isso quase acabou com minha saúde. Voltei para minha área de origem e vou levando a vida.

    Poderia estar melhor financeiramente? Poderia. O problema é que morreria antes da hora também. Então resolvi sentar praça em algo que é do meu talento e levantar uns trocados. Inclusive, vivi assim na época em que morei em Belo Horizonte.

    O meu único senão fica por conta de que me considero um profissional, sim! O problema é que meus empregadores não reconhecem isso. Mas não é por esse motivo que vou marcar gol-contra o tempo todo. Minha ação é sempre profissional. Vai que de repente alguém me ache e eu saio da merda...?!

    No mais, você está certíssimo em gênero, número e grau! Só pedimos para que você não suma de vez, porque aquela mesa, bate-papo e uma gelada não precisa ser artista, não!

    Boa sorte!

    E aquele abraço!

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