terça-feira, 27 de março de 2012

A ordem direta da oração (ou não)


Normalmente, quando queremos alcançar clareza, utilizamos a ordem direta na oração. Isto significa fazermos uso de sujeito + verbo + complemento. Porém, muitas vezes a oração não comporta, ou não recomenda, a ordem direta como o melhor posicionamento. Existe o uso estilístico de determinadas inversões, porém, o que pretendo mostrar hoje, é o uso necessário da inversão para dar clareza à frase.


Para tanto, mais uma vez, fui motivado por uma notícia de jornal:

PM MATA HOMEM COM ARMA DE CHOQUE

Vejamos: PM (sujeito) mata (verbo) homem (objeto direto) com arma de choque (adjunto adverbial).

Neste caso, pela proximidade do adjunto adverbial com a palavra homem, o leitor é inicialmente levado a crer que o homem "estava com a arma" e, consequentemente, "foi morto pela PM". Sentido no qual, em uma análise mais atenta, parece haver dúvida, pois seria pouco provável (pelo menos neste momento em que escrevo) que um cidadão comum, e não a PM, estivesse portando uma pistola Taser (arma de eletrochoque, considerada não letal). Portanto, como duas interpretações são possíveis, instala-se a dúvida.

A primeira e mais provável interpretação: pensarmos num adjunto adverbial de acréscimo ou adição, o homem mais a arma que ele portava. Grosso modo, portar a arma restringe e especifica aquele que foi morto. Assim, mentalmente,  colocamos em foco as palavras homem e arma de choque, unidas pela preposição com.

A segunda, e mais improvável, nosso conhecimento de mundo vai buscar o fato do policial portar a pistola Taser. Logo, interpretaríamos com arma de choque como adjunto adverbial de meio, ou seja, o policial matou por meio (fazendo uso) de uma arma de choque.


A leitura do corpo da notícia confirma a segunda opção. Porém, pergunto, como faríamos para obter uma manchete que não gerasse a suscitada dúvida?

Várias opções se apresentam, porém, necessário se faz ROMPERMOS A ORDEM DIRETA DA ORAÇÃO trazendo o adjunto adverbial para posição de destaque, para o início da frase. Deste modo:

COM ARMA DE CHOQUE, PM MATA HOMEM

Importante percebermos como a atenção do leitor vai para a arma de choque e como, de forma inequívoca, o PM mata o homem. Portanto, corretíssimo.

Porém, ainda existe, na minha opinião, uma melhor escolha, que seria:

HOMEM É MORTO PELA PM COM ARMA DE CHOQUE

Perceba-se como, agora, existe a aproximação entre o PM e a arma de choque, portanto, o que induz o leitor a erro na frase original, aqui, funciona como reforço (o uso da pistola Taser foi feito, de forma inequívoca, pelo policial militar).

Para finalizar, caso quiséssemos dar destaque ao fato da pistola Taser ter matado uma pessoa, o que não seria o esperado, pois em vez de proteger a vida do cidadão a arma, considerada como um avanço constitucional, estaria tirando vidas humanas:

ARMA DE CHOQUE USADA PELA PM MATA CIDADÃO

Fundamental perceber que o enfoque, agora, é dado à arma, isto é, a arma é a culpada e não o PM que dela fez uso. Igualmente, o fato de ser questionável o aspecto não letal deste armamento. Aliás, para fazer jus à notícia, o indivíduo que foi atingido e morto tinha feito uso de cocaína e estava destruindo os móveis da casa, o que, se não se mostra um gesto adequado, também não justifica uma morte.

Para nós, o que neste momento importa é saber que existem formas várias para expressarmos determinada ideia, e que, apesar da ordem direta ser aparentemente a mais clara, nem sempre esta assim se mostra.

Por isso é que dizemos que escrever é ofício de carpintaria, necessita estudo, precisão e, certamente, um tanto de arte.


Abraço aos leitores do blog.

5 comentários:

  1. Ótima reflexão da gramática contextualizada!

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  2. Márcio, parabéns ! Bom até para quem não é da área... Mauro

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  3. Obrigado aos amigos pelos comentários, a ideia é essa mesma, passar algumas importantes dicas ao leitor, sobre escrita, em geral.

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  4. parabenss me ajudou muitooo pra minha prova! ;)

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  5. parabéns me ajudou muito a estudar pra fazer um trabalho compreensivo e agora sei de miutas coisas

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