quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Afinal, quem se suicidou?


Abro o jornal e leio:

"As autoridades belgas revisaram ontem o número de mortes, inicialmente seis, para quatro, já considerando a mulher encontrada na casa do atirador - que se suicidou após a ação."

Releio o período da notícia por mais de uma vez, e continuo na dúvida: "afinal, quem se suicidou após a ação: a mulher ou o atirador?".

À primeira vista, foi "a mulher encontrada na casa do atirador" quem se suicidou. Porém, por uma questão de coerência textual, se houve um atirador que praticou inúmeros assassinatos, nada mais lógico do que a mulher estar entre o número das seis mortes citadas, e o atirador se suicidado.

Tal problema é acarretado pelo fato da palavra "que", por tratar-se, em nosso exemplo, de um pronome relativo, o que significa gramaticalmente a retomada de um termo antecedente, dando sempre início a uma oração adjetiva: "que se suicidou após a ação". Então, mais uma vez, qual o termo antecedente retomado pela oração, a mulher ou o atirador? Como somos induzidos pelo texto, o substantivo "mulher" acaba assumindo a posição desse referente, por ser núcleo de um complemento verbal.

E por que não pensamos no suicídio como sendo do atirador? Porque no termo "casa do atirador" temos "casa" como núcleo e "do atirador" um aposto com função adjetiva, isto é, um aposto que especifica o substantivo "casa".

Tais problemas com a escrita podem ser facilmente evitados com a utilização de "o qual", e variantes (que também são pronomes relativos). Assim:

[...] "já considerando a mulher encontrada na casa do atirador - a qual se suicidou após a ação."

      ou

 [...] "já considerando a mulher encontrada na casa do atirador - o qual se suicidou após a ação."

Pronto, agora, a cena do crime fala. Portanto, em caso similares lembre-se: o qual, os quais, a qual, os quais, podem solucionar com facilidade sinistros casos de assassinatos e de suicídios.

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