segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Os caminhos para um romance

É comum os escritores declararem publicamente a forma como escreveram seu romance, até porque, essencialmente, temos apenas duas delas: planejamento ou work in progress.

Planejar significa "decidir antes", portanto, nesta primeira e mais tradicional forma de escrita temos os detalhes da  narrativa pensados antecipadamente, o autor idealiza seu começo, meio e fim; sua estruturação em capítulos; os espaços onde esses se passam (cidade, bairro, ambiente etc.); além da essência de cada um dos capítulos, dando ao todo do livro determinada feição. Concomitantemente com essa elaboração, os personagens vão sendo construídos sendo comum a escrita de seus perfis e/ou biografias. Existem alguns modelos para facilitar essa elaboração, aos quais se dá o nome de "ficha de personagem".


É uma tarefa bastante demorada, porém, tem a vantagem de, depois de pronta, facilitar (e muito) o trabalho do escritor que, após tantas pesquisas e maturação das ideias, parte para o texto minimizando o risco do chamado "branco" ou "pânico diante da folha a ser escrita".

O modelo work in progress, cujo nome tomei emprestado da área teatral, é aquele em que o autor vai para a folha de papel sem um planejamento antecipado, geralmente motivado apenas por uma ideia, ou pelo forte desejo de escrever. Muitas vezes, conforme declarações várias, trata-se de uma escrita que vai tomando corpo, alongando-se e, repentinamente, percebe o autor de que "pode sair dali um romance". É uma forma que se assemelha à leitura, partindo-se do princípio de que o leitor "viaja" nas páginas do texto sendo surpreendido pela narrativa; desta mesma forma, o autor opta pelo prazer do desconhecido. Portanto, vai tateando com seus personagens, deixando-se levar pela narrativa e pelas suas consequências naturais, ainda que, eventualmente, encontre-se em situações narrativas de difícil solução.

No meu ponto de vista, o modelo work in progress não é vantajoso porque, além do risco de "como" solucionar os inevitáveis nós narrativos, e necessidade de reescrita diante dessas complicações, perde-se uma das principais características que um bom texto deve conter: a essencialidade, ou seja, deve o autor escrever apenas o necessário para se contar aquela história, assunto sobre o qual falarei num outro dia.

A primeira dessas práticas é muito utilizada em países estrangeiros, principalmente de língua inglesa. A quase totalidade de autores de best-sellers assim o fazem. A segunda, para minha própria surpresa, é muito utilizada aqui no Brasil, de acordo com as várias palestras que já presenciei em feiras de livros, diria até que equilibradamente.

Traçando uma analogia, imagine que você decidi sair de uma cidade do Sudeste do Brasil e, de férias, dirigir-se de carro até um município litorâneo do Nordeste. Ou você planeja a viagem, o roteiro, o que se mostra mais econômico e proveitoso, ou joga a mochila no porta-malas e "põe o pé na estrada", ao sabor das aventuras, não sabendo ao certo nem como nem quando chegará lá. Porém, de uma maneira ou de outra, o que vale mesmo é o prazer da caminhada.

Aos meus leitores romancistas, recomendo: escolha entre esses dois caminhos e... boa viagem!

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