sábado, 21 de janeiro de 2012

O jipe que se atolou


Quando criança, lembro-me de ter escutado uma piada contada em show pelo Chico Anísio, cujo pleno entendimento demorei muito a compreender em sua plenitude linguística. Trata-se da história de dois matutos que moravam no interior do Piauí, desde então o estado mais pobre de nosso país.

Dirigiam um jipe em uma estrada de terra quando, devido às chuvas, este ficou atolado em um lamaçal. Após, conseguirem pôr o veículo novamente livre na estrada, da conversa entre ambos, brotou um calorosa disputa. Dizia um deles "o jipe se atolou" enquanto o outro "o jipe atolou-se". E nesse "se atolou", "atolou-se", foram assim mundão afora.

Ao chegarem à cidade, foram consultar aquele considerado o "maior conhecedor" da região, a fim de porem fim àquela contenda. Questionado sobre qual dos dois, afinal, estava com a razão, este cofiou a barba e respondeu: "Aí depende!... Se o jipe atolou com a roda da frente, ele se atolou. Se atolou com a roda de trás, ele atolou-se". Não esperava, porém, a afirmativa comum dos debatedores: "Mas o jipe atolou com as duas rodas!?".

Ao que, o matuto conhecedor, respondeu de pronto: "Então, ele se atolou-se".

Ironias à parte, esta questão é comum a grande número de escritores, como foi a mim mesmo longo período, ainda durante meu curso de Letras, até por haver posicionamentos contrários conforme o gramático. Exemplificando melhor, com as mesmas anotações feitas por mim no livro da Ingedore :

Tânia me chamou ou Tânia chamou-me. Mário me trouxe o presente ou Mário trouxe-me o presente.

Ela me chamou ou Ela chamou-me. Ele me trouxe o presente ou Ele trouxe-me o presente.

Qual o correto? Ou, resumindo, os nomes próprios, assim como os pronomes pessoais retos, atraem ou não atraem o pronome oblíquo?

Detalhes normativos à parte, sem me estender nas partículas que atraem ou não os pronomes oblíquos átonos, o consenso é o seguinte: se não existe partícula atrativa, a colocação é facultativa, faça uso de próclise ou de ênclise; antes ou depois do verbo, tanto faz. Pois nem nomes próprios tampouco pronomes pessoais retos são partículas atrativas.

Portanto, estariam certos os dois matutos, e o "conhecedor" cometido um erro crasso.

Porém, para nós, o que importa é a seguinte dica: em casos similares, a colocação pronominal fica a gosto do freguês; utilize-a de acordo com a  sonoridade, do ritmo da frase ou seu gosto pessoal.

Abraço aos amigos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário