domingo, 15 de janeiro de 2012

Romances e roteiros, estruturas que se assemelham?

Conforme explicado em postagem recente, o escritor Marçal Aquino opta pelo modelo work in progress na escrita de novelas e romances, o que poderia à primeira vista sugerir um possível desconhecimento desse autor em "como" fazer uso do outro modelo, ou seja, do planejamento.

Mas isso seria um engano porque Marçal Aquino é bastante conhecido como roteirista, tanto para filmes normais de tela grande quanto para seriados da Rede Globo de Televisão e, portanto, inevitavelmente o conhece. E bem. Quer a prova? Basta acessar o link aí embaixo e assistir a um vídeo de apenas três minutos, porém, bastante revelador PORQUE É NESTE MESMO SISTEMA EM QUE SÃO PLANEJADOS HOJE A MAIOR PARTE DOS ROMANCES CONHECIDOS COMO BEST SELLERS:

http://www.youtube.com/watch?v=se0iGuJ_NYw

Primeiramente, convém esclarecer que, diferentemente do que o roteirista novato possa pensar, não são os filmes que, nos dias de hoje, vêm a influenciar novas estruturas romanescas, mas, desde o início da história do cinema, a literatura é quem tem influenciado a sétima arte. Portanto, desde as primeiras propostas estéticas de um filme, ou uma simples tomada de cena, é este quem segue, na sua sintaxe narrativa, regras similares à criação literária. Quanto a esse tema, não me estenderei, por existirem vários e bons livros sobre o assunto.

Somente cabe aqui avisar, neste blog, é que, a partir dos Estados Unidos, onde encontramos poderosa indústria cinematográfica, descobriu-se rapidamente que são vultosos os valores pagos por uma boa história de cunho cinematográfico. Portanto, por essa afinidade estrutural entre romance e cinema, começaram os escritores a pensar o romance como uma sequência de cenas, prontíssimo para ser reescrito (retextualizado) na forma de roteiro, já tendo sua curva dramática previamente desenhada para o cinema.

Quer um exemplo? Passe em uma livraria, leia vários dos primeiros capítulos dos chamados best sellers e veja se boa parte desses romances começam ou não com uma "cena de ação". Tal fato é motivado pela necessidade do filme em prender a atenção do espectador desde a cena inicial; enquanto que, no romance, as primeira páginas apresentavam-se normalmente como descrição (apresentação de tempo e espaço). Aos poucos, as duas estruturas vão se aproximando.

Daí, talvez seja conveniente lembrar ao nosso leitor da distinção entre literatura ou não literatura (também chamada de paraliteratura); definições e termos que, inevitavelmente, são aceitos por uns enquanto renegados por outros, de acordo com a formação acadêmica e filosófica daquele que as observa. Do meu lado, opto em servir-me deste momento para expor o assunto e não defender este ou aquele modelo, pois cada ser humano age por diferentes motivações.

Falo isso porque, a meu ver, entre o literato engajado e o mundo administrado deve se interpor sempre o caráter subversivo. Literatura é subversão, guerrilha, nas quais o aspecto econômico não pode se sobrepor ao artístico.

Para finalizar, indico aos interessados dois livros essenciais para o estudo de roteiro: Da criação ao roteiro, de Doc Comparato - que, depois de longo tempo longe das prateleiras das livrarias, foi reeditado em versão atualizada - e Manual do roteiro, de Syd Field.


A partir deles, para aqueles que preferirem, pode-se pensar a estruturação de romances em linha comercial, ou seja, os chamados best sellers.

Espero que apreciem as informações de hoje, e até nosso próximo encontro.


   

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