domingo, 12 de fevereiro de 2012

Em narrativas, atenção com o verbo "haver"

A dica que passo hoje de escrita é simples, porém, já vi esse deslize pegando muitos bons escritores por aí, e passando batido nas revisões. No fundo, é bastante simples, basta um pouco de atenção.

Quando se escreve uma narrativa, normalmente a fazemos no pretérito, isto é, contamos a história com os verbos flexionados no passado. Eu sei que muita gente gosta de escrever no presente, assunto que, prometo, irei abordar futuramente com maiores detalhes. Porém, somente para jogar um pouco de pimenta neste molho, desde os primórdios da humanidade os homens sentam-se ao redor de uma fogueira, à noite, para bater um papo e contar os acontecimentos do dia, ou grandes situações do passado, inclusive de seus ancestrais.

Em todos esses casos, a história é contada no pretérito. E fica por conta do ouvinte a atualização da narrativa.

Assim, por exemplo, se eu te conto "Eu ia saindo bêbado do salão de baile, mais bêbado do que um gambá, quando, de forma irresponsável, fui atravessar a rua para pegar meu carro, que estava estacionado próximo, momento em que fui atropelado por um veículo cujo motorista, provavelmente, estava tão ou mais bêbado do que eu, porque se evadiu imediatamente do local".

Pronto, perceba como o leitor, apesar de estar lendo no pretérito, atualiza mentalmente a narrativa como se no presente ela estivesse, isto é, os fatos ocorressem naquele exato momento. Logo, quando a narrativa se fizer no pretérito, o verbo haver precisa necessariamente também ser flexionado nesse mesmo tempo.

Por que digo isso? É comum encontrarmos a seguinte construção:

Luciano frequentava aquele bar mais de um ano.

ou

Joana entrou em casa, estava alegre. Cantava como no passado.
Demorou para perceber que, em cima da mesa, uma carta dirigida a ela.

É óbvio que, estando o período no pretérito, o verbo haver precisa também ser assim flexionado. Portanto:

Luciano frequentava aquele bar havia mais de um ano.

ou

Joana entrou em casa, estava alegre. Cantava como no passado.
Demorou para perceber que, em cima da mesa, havia uma carta dirigida a ela.

O que é diferente da fala cotidiana "Ele saiu há pouco tempo", ou seja, "Ele saiu faz pouco tempo". Lembrando que usamos o verbo haver para tempo decorrido (passado) e a preposição a para tempos futuros: "Vou sair daqui a pouco".


3 comentários:

  1. Marcio, gostei muito do livro, mais uma vez parabeniza lo.
    A minha mãe ficou impressioanda com alguns relatos do livro, mas fazer o que é uma vida de policial né. abraçosss

    Att Juliano de lima.

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  2. Abraço, obrigado por suas palavras, Juliano.

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  3. O objetivo do livro é esse mesmo, mostra como é a vida de um investigador da Civil de São Paulo. Abraço.

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