sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Brasil que não muda: Casa Grande e senzala

De um modo geral, não quero utilizar este espaço para criticar as mazelas sociais, porém, sou cidadão brasileiro e fica difícil a gente assistir a tantas injustiças permanecendo-se eternamente calado, principalmente quanto às diferenças de oportunidades e desigualdades sociais que, em nosso país, são assustadoras.

Todavia, o que mais me tem preocupado é que, apesar do alavancamento econômico recente, ainda permanecemos na mesma cultura arcaica "corte versus colônia" ou, em outras palavras, mesmo as camadas  mais jovens, formadas nas melhores universidades do país, carregam em si, de forma intrínseca, a velha ideologia  "casa grande-senzala". Para não dizerem que estou exagerando, até porque descobri recentemente que esse mesmo conceito é defendido por Caio Prado Júnior em sua A Formação do Brasil Contemporâneo, aproveito e repasso alguns números aí embaixo. Antes, porém, para resumir ou melhor definir essa ideologia, podemos pensar também na frase "Você sabe com quem está falando?", como se certos direitos fossem adquiridos por qualidade "divina", ou seja, pelo simples fato de ter nascido em classe social privilegiada, ou valerem-se de determinados cargos.


O Brasil oscila atualmente entre a 6ª (sexta) e a 8ª (oitava) economia mundial, ou seja, riqueza não falta. Porém, em pesquisa recente, segundo o site da BBC Brasil, nosso Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) despenca quando são aplicados os índices de desigualdade social, e, assim, ocupamos apenas a 73ª posição entre os 134 países pesquisados. E tudo isso ainda se considerando a política assistencialista que tem sido adotada nos últimos três períodos de governo - às quais, se cabem críticas, sobram também elogios, inclusive internacionais.

Quanto à distribuição de renda, porém, pior ainda: ocupamos a 116ª posição, ou seja, ali pertinho do Haiti (120ª), Serra Leoa (124ª) ou a Namíbia (126ª).


Portanto, prezado leitor, pode pesquisar aí pelo Google, pode questionar que existe um dado mais recente, que mudou duas ou três posições, mas a conclusão é sempre a mesma: continuamos repetindo a ideologia "casa grande-senzala", ou seja, vivemos num país de enormes desigualdades sociais, uma das maiores do mundo, continuamos entre os dez países mais ricos do mundo, decolando economicamente, porém, com apenas pequena parcela da população beneficiando-se desse crescimento, comendo desse bolo. Revistas recentes têm mostrado o aumento de milionários no Brasil.


Quanto a este assunto, podemos nos estender indefinidamente. Gostaria apenas de deixar registrado que a única saída que vejo é "pela educação" e pela participação de todos na construção de uma sociedade mais justa, ainda que nossa voz seja constantemente reprimida, nossos sonhos destroçados, ou nos imponham o inglório tacão da Justiça sobre os ombros, porque o Estado não é nada mais do que o capital organizado, e a ele estende suas benesses.


É esse o Brasil que, após tantos anos, pensei um dia vislumbrar de modo diferente. Resta-nos apenas, libertarmo-nos do medo e, como na fábula do jovem inocente, devolver ao oceano o máximo possível das estrelas do mar que arrebentam na praia, para que, dentre elas, pelo menos uma ou outra se salve, dando assim alguma razão à nossa existência.

2 comentários:

  1. A tendência, Márcio, é as coisas piorarem, porque a qualidade e o nível do ensino decaem por detrás da demagogia irresponsável e da submissão aos ditames estrangeiros (redução do índice de analfabetismo através da aprovação continuada) que tudo fazem para manter esse nosso mercado farto de mão-de-obra barata.
    Com a crise econômica batendo à porta dos países europeus e dos norte-americanos, o Brasil é um excelente refúgio para quem tem algum lastro (econômico e cultural) e é muito interessante que não haja muita concorrência interna.
    Junte-se a isso o nosso humano individualismo e a nossa imprevidência, para termos a certeza de que, nesse campo que você medita, as coisas ainda vão decair mais.

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  2. O Paulo Henrique Amorim chama o PIG de o boletim interno da Casa-Grande

    As polícias, nesse momento, estão enfrentando o poder do Estado, porque já encheu o saco servirem de guarda palaciana da elite financeira de um país inteiro.

    Joguem as instituições na lata do lixo e viramos um México, assolado nos barões do narcotráfico, que matam desde juízes, desembargadores e funcionários de embaixada.

    Pergunte para algum simulacro de Eike Batista, bem tupiniquim se é nóis na fita para férias em Cancún?! Antes, era chique. Praia de Caras em Cancún! Bastou os sanguinários do narcotráfico local botar essa gente para correr.

    E aqui, em breve, e infelizmente, não está muito longe de acontecer isso. Se ontem o BOPE no Rio não tivesse se AQUARTELADO, tinha dado josta no centro da cidade.

    É por isso que eu digo: é preciso ser reassinado o decreto 3.353, primeira assinatura da Princesa Isabel. E que, a partir da assinatura, todos cumpram à risca, si vous plait!!!

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